sábado, 25 de junho de 2011

Sólido gasoso

Algumas tribos de índios do centro-oeste brasileiro, ao longo da vida, levam consigo apenas 23 (vinte e três) objetos, utensílios, coisas que julgam necessário usar durante sua pequenina estadia em solo terrestre.
Pois bem, se EU contar o que levo comigo hoje, sem sombra de dúvidas passa de mil coisas mortas que venho amontoando há séculos de existência.
Partindo de um pensamento mais antropológico, é necessário, realmente, que eu armazene mil (1.000) coisas em minha casa? É necessário que eu use 1 (um) objeto por dia na vida para ir ao mesmo lugar todos os dias de minha agradável vida?
Existe também uma coisa chamada amor, amor pelos meus lindos objetos. Coisa que determinadas tribos do centro-oeste do Brasil não têm - vale lembrar que seus 23 (vinte e três) objetos são levados ao longo de toda a permanência no hotel Terra. Eu disse vida, v-i-d-a, não semanas ou quebrou troca por outro. E usam por extrema necessidade.
Meus objetos fazem de mim um escravo, eles mandam em mim. Eles não são necessários, mas quero gastar meu dinheiro a qualquer custo. Entretanto, como moro em uma metrópole, preciso alternar as coisas, preciso mostrar-me todo dia como alguém renovado e antenado na moda. Essa maldita moda que sobe à cabeça dos mais fracos e marionetados seres mundiais, Como vou comprar, comprar, comprar? Preciso mesmo comprar, comprar, comprar?
Preste atenção, se compro um tênis novo, não o compro para vestir meus pés, compro porque quero ser o outro, quero o que o outro tem. É porque vi alguém usando. Se quero o que o outro tem, logo, sou um invejoso. E inveja é algo psicológico. Você não pega com as mãos a inveja, ela é intangível. Contudo, vem da imaginação, sou fruto do que não existe. Era melhor eu usar uma proteção para os pés feita de palha ou algodão e não usar a porra da moda que o filho da puta da esquina inventou.
Toda a nossa vida é uma mentira mesmo. Nada disso existe. O que tenho é o que sou. Meu carro me define, mostra o meu caráter, sou uma ebulição do meu pensamento capitalista. E olha que nada vai embora comigo, sempre vou renovar e aumentar minha coleção. Isso é importante! Sólido gasoso.
(Texto escrito dia 06/09/2009, à 1:48 AM).

Um comentário:

  1. Oi Abnerrrrrrrrrrr... Saudades!!!!!!!!! Esse texto me faz parar pra pensar no quanto sou apegada a algumas das minhas coisas, como por exemplo: meus livros, minha coleção de xicaras, minha coleção de pedras e conchas... Sei que nada levarei quando morrer, mas no final quero que fiquem para alguém especial... rsrsrsrsrsrs Sei lá! Saudades suas, passa lá no meu cantinho... Muitos beijinhos pra ti, bye

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