E depois de muito tempo, eu ainda passava pelo meu jardim e o via perfeito. Cada planta, com um sentimento, estava em seu lugar. As árvores em crescimento estavam lindas, floridas.
Mesmo passando quase que diariamente por lá, em alguns momentos eu achava que havia algo de errado. Contudo, eu cai no círculo viciante da comodidade, aquela sensação de que tudo estava bem e nada poderia ser mudado em meu jardim. Afinal, ele ainda era belo, eu o cultivava de longe e emanava pensamentos por ele. As flores brilhavam, o astro-rei passeava durante o dia, as formigas se alimentavam sob a terra e os pássaros o visitavam diariamente. Mas eu ainda tinha um sentimento de medo, uma repulsa cega pela mudança de algo. Mudaria o quê, se, afinal, está tudo lindo?
E foi nesse ponto que eu me enganei. Meu sentimento pelo meu jardim estava na mesmice. Olhar para ele apenas, tirar uma ou duas ervas daninhas de lá e estar sobre o jardim não eram atitudes de amor.
Eu também sentia que o sufocava, minha constate presença já não o alimentava. Não tínhamos uma reciprocidade calorosa emanada. Era tudo normal. Passar pelo jardim ficou comum. Eu olhava de cima para as flores, para grama e não me identificava mais, porém, sabia que queria ter um jardim. Mantê-lo ali era o importante.
Contudo, meu jardim ainda nos via unidos, ainda nos queria próximos. Há algum tempo, também pensei em mudanças. Meu jardim também percebera algo de errado e dialogou... A mesmice era o que nos corroía e, com toda a certeza, nos devoraria. Meu jardim seria apenas um amontoado de folhas secas, sem lembranças boas, maltratado, sem história.
Em uma das frias noites do outono paulista, meu jardim reclamou que queria mudanças e admitiria tais mudanças. Não impôs nada a mim, mas mudanças deveriam ser estabelecidas para que nos apegássemos ainda mais. A mesmice das vindas e idas pelo meu jardim não estavam agrandando sua alma. Não conversávamos mais, não dizíamos como foram nossos dias sem um ao outro. Não trocávamos reais sentimentos de cumplicidade, amorosidade e carinho.
Com todos esses sentimento que troquei com meu jardim, desabei em lágrimas e percebi que suas palavras atingiram diretamente no ponto da falha. As mudanças sempre serão bem-vindas ao cotidiano.
Depois de chorar e pensar em destruir todo o jardim que construímos, percebemos que nos amamos, que o que faltava era atitude e emoção em nosso relacionamento. Vejo que meu jardim está mais cuidado. Eu estou cuidando? Também! Mas meu jardim se renova a todo dia. Nossa mudança será para sempre. Percebi que eu floresço a cada dia depois que meu jardim me ajudou a mudar, a me emocionar a cada momento da nossa linda vida. Quero meu jardim lindo por todos os dias. Sei que cooperei para isso.