quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Suar como o leito de um rio que corre por tão longe neste Brasil de tamanho inimaginável



Quando vejo que o dia está belo lá fora, percebo que entra na epiderme de minha alma, a mais voraz das vontades de levantar da cama. Sinto essa energia agindo por todo o meu corpo e perco a noção de tempo e espaço. Quero, o mais rápido possível, não estar limitado às fronteiras do meu tepete azul. Desejo sair do meu quarto e entrar de cabeça no azul do céu somado aos raios do magnanimo astro-rei. Levanto e vou pouco a pouco exercitando-me para receber o espetáculo do dia lá fora. Oferecendo-me, de graça, os seus esforços de milhares de anos.


A roupa que uso é a mais leve possível. O que tomo é somente água, só essa fonte me dará forças para compensar o suor que vou derramar. Preparo-me para deixar minha casa. Desço as escadas. Abro a porta que dá para a rua. Finalmente recebo de peito aberto a calmaria, a paz, a razão pela qual o mundo gira, recebo o Sol, o ar e minha mente limpa do cotidiano estressante.


Ando por 5, 10 minutos. Aqueço o motor dentro da minha caixa toráxica. Quando ele está bombando de tanta vontade de ir para a terceira marcha, dou a arrancada que me fará voar pelo prazer que - somado às forças do céu e da natureza - tenho de correr, viver, agradecer a conspiração do universo por essa arte. Um momento mágico e único.



A vontade que tenho de não deixar essas emoções, desejos, prazeres únicos acabarem, de permanecer movimentando-me por horas, de sentir o frescor do ar cortando minha face, de sentir os raios do Sol penetrando em meus fios de cabelo, de desejar que todos os meus muscúlos trabalhem para me dar saúde, de perceber meus póros abertos para a renovação de minha pele é a mesma vontade que temos de pedir ao Supremo que revogue Sua autoridade de acabar com o mundo, se isso um dia acontecer. Um prazer indecifrável.


Volto para casa com o suor pingando aos montes pelo meu corpo. Tenho a sensação de leveza. Quero que a semana passe o mais rápido possível para eu voltar ao meu estado de gratidão com o universo.



Abner



Um comentário:

  1. “Talvez a essência da Ultramaratona seja sua suprema falta de utilidade. Não faz sentido, num mundo de naves espaciais e supercomputadores, correr vastas distancias à pé. Não há dinheiro e nem fama envolvidos na maioria das provas, freqüentemente nem mesmo há a aprovação dos familiares e entes queridos. Mas como afirmam poetas, apóstolos e filósofos desde os mais remotos tempos, existe muito mais na vida que a simples lógica e o bom senso. Os Ultramaratonistas percebem isso instintivamente. E eles sabem algo mais que está perdido no sedentarismo. Eles entendem talvez mais que ninguém, que a porta para o espírito se abrirá com o esforço físico. Ao correr tão longas e extenuantes distâncias eles respondem uma chamada do mais profundo de seu ser – uma chamada que responde quem realmente eles são”. ( David Blaikie)

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